8 de janeiro de 2011

Coisas que odeio - 1 & 2

Achei uma imagem no meu computador da qual não me lembrava, e ela me inspirou de imediato a abrir mais uma seção aqui: COISAS QUE ODEIO. Afinal, é bom deixar bem claro ao mundo quais coisas nos incomodam. Quem sabe isso ajude a fazer com que alguém nos poupe delas no futuro.

Vai aqui então essa imagem genial, que junta duas coisas que eu detesto. Estou pensando em imprimir e colocar na porta de entrada da minha casa, só pra dar um sinal bem discreto aos visitantes..... rsrsrss.....





Frases para a posteridade - 01

Hoje me ocorreu que esse seria um bom lugar para registrar aquelas frases bastante... curiosas... que passam pelos olhos ou ouvidos vez ou outra, e que por suas características ou de sabedoria ou de absurdo, acabam sendo repetidas, viram jargões e ficam pra posteridade. Claro que a maioria fica por ser absurda. (risos)

Hoje uma delas, que tem pouco mais de um mês de vida, ressurgiu no meu dia, já pela enésima vez, daí a idéia. Conto o histórico: há pouco mais de um mês uma certa pianista bastante afamada no Brasil (cujo nome não revelo para evitar a fadiga) veio a Maringá dar um recital. Ao subir ao palco, ela, que gosta muito de falar, quis dizer algumas palavras. Então ela disse: "Onde está o microfone? Não providenciaram?".... Vendo que teria que falar o que precisava sem microfone, começou se desculpando com a tal frase, que vai para a posteridade, e que inaugura nossa seção:
"Acontece que minha voz é pequena,
apesar de minha dicção ser perfeita."

Obviamente que sim, quem pensaria o contrário? hahahahahahahaha

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3 de janeiro de 2011

Habitando o mundo de maneira poética - ou "Os olhos de Erato"




A poesia não sobrevoa nem se eleva sobre a terra
a fim de abandoná-la e pairar sobre ela.
É a poesia que traz o homem para a terra,
para ela, e assim o traz para um habitar.
Heidegger


Pra não cair numa das piores perguntas estético-filosóficas de todos os tempos - o que é arte? -, caio em outra pior: o que é ser artista?

Pergunto, mas não me digno a responder, senão precisaria de mais do que um blog pra isso, se é que soubesse responder. Mas posso dizer uma coisa que talvez seja novidade pra alguns, ou não: o artista vê o mundo de outra maneira. Essa diferença de visão corresponde, claramente, a uma diferença de sensação e de entendimento do mundo. E nos tempos em que vivemos, isso traz tantos problemas ao artista que é quase mais uma maldição do que uma bênçao ser assim.

Falo por mim: definitivamente minha maneira de entender o mundo só me traz conflitos, imerso que estou num mundo "não-artístico". Durante toda minha vida presenciei, por exemplo, minha mãe se atormentando com o mesmo problema, e por muito tempo não a entendi. Ela, que é um talento enorme para várias coisas (especialmente para a pintura), e que nunca teve a chance de estudar e fazer uma carreira, além da diferença do "sentir" o mundo ainda teve que passar a vida lidando com uma frustração pessoal bastante intensa, não pela carreira que não veio, mas por sua arte que pouco atingiu mais que seu círculo imediato. Esse mundo "não-artístico" pode ser infinitamente cruel, e é. Pobre desse espírito de artista que não souber se preservar.

Eu que sou músico sei com mais detalhes das biografias de alguns compositores que não souberam lidar bem com esse "ser artista", e acabaram se estrepando, apelando pra bebida, pro sexo indiscriminado (em épocas em que a sífilis era o grande mal, e incurável), e acabavam se destruindo muito cedo, tal como aconteceu com Mozart e Schubert. Mas isso sempre foi muito comum: lembremos de nossos heróis da poesia romântica brasileira, como Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo, grandes intelectuais, espíritos sensíveis, mortos na flor da idade. São mais raros os casos de artistas até o século XIX - que além dessa problemática ainda tinham que lutar contra doenças, falta de cuidados sanitários e tal - que seguravam bem as pontas, tinham a cabeça mais tranqüila e conseguiam atingir uma idade consideravelmente alta, como Bach e Haydn.

Nada mais normal que um artista que tenha problemas em lidar com dinheiro, por exemplo. O dinheiro é a materialização máxima do "mundo real", o mundo em que os gerentes de banco, os donos de comércio, os engenheiros e tanta gente vive todo dia como sendo o auge da realidade. O que muitos têm como algo básico e prioritário no dia a dia, o artista tem como um "auxiliar" de sua arte. Isso pode parecer meio estranho, senão irresponsável, mas não é isso. Sabemos da importância do dinheiro, queremos dinheiro, gostamos de dinheiro. Mas lidamos no dia a dia com coisas tão etéreas e tão carregadas de significado em nossas artes que muitas vezes é complicado lidar com o "aqui e agora".

Pra mim, a realidade mundana é difícil de lidar. Ir ao mercado, pagar contas, tirar a teia de aranha de detrás da porta, cuidar da carreira... Tudo isso é algo que vejo como necessário, mas quase como um "atraso de vida", como se o que eu realmente tivesse a fazer na vida fosse algo tão mais importante que tudo isso perde o brilho. Com isso não quero dizer, de modo algum, que as atividades não-artísticas sejam menos importantes. Oras, claro que não. Tudo é absolutamente importante (ou quase tudo). Mas sei que o artista normalmente tem essa "ponta" de obsessão, que sai da arte em si e se estende para tudo o que a arte diz, representa e tudo mais.

Andando pela rua às vezes me sinto realmente como um estrangeiro, mas estando em qualquer lugar, como se nada me pertencesse, e só me vem aquela sensação de "ah, agora sim!" quando estou sentado ao piano, gastando horas pra resolver uma passagem complexa, polindo o som, definindo frases... E olha que tudo que eu estudo, e gosto de tocar, muito mais gente no mundo toca melhor do que eu, sem falar nas gravações. Mas já faz tempo que entendi que estudo para deixar que a música - aquela mesma de sempre que todos tocam - transforme a mim, e nunca para que eu a transforme. O artista precisa da arte, e não o contrário. E é por isso que a arte não tem fim.

Numa das saudosas e deliciosas conversas com minha grande mestra Marisa Lacorte, na época em que escrevia sua dissertação de mestrado, ela discorreu sobre Heidegger, e falou de suas explanações sobre poesia, e sobre como o homem "habita o mundo de maneira poética"... Sempre gostei de estética e achei interessante o pensar filosófico, mas nunca me debrucei sobre nenhum autor de fato (eis uma lacuna que pretendo preencher um dia...). Mas quando uma dessas pérolas me caem aos olhos ou ouvidos, costumo deglutí-las por muito tempo. E assim foi com essa frase de Heidegger, que na verdade não é exatamente dele, mas de um poeta, Hölderlin, que ele usa pra fazer suas considerações. Durante muito tempo pensei nisso, lembrei disso, e cada vez mais me parece que é assim, e mais ainda para o artista. "Ver o mundo" de maneira poética, quase que como ver o mundo com outras cores... Habitar o mundo de maneira poética me parece a chave para uma humanidade menos doentia. Será?

Acho que quis falar sobre isso porque estou passando uns dias ultra-terrenos, no sentido de precisar estar 95% do tempo atento a coisas cotidianas. Cada esforço para coisas mundandas torna-se mais pesado diante da perspectiva de muitos dias assim, e embora seja por uma causa nobre, é árduo, pois meu pensamento insiste em vagar livre pelos mares da minha música, e é lá que quero ficar a maior parte do tempo, e é só quando fico lá mais demoradamente que o mundo "normal" volta a fazer sentido pra mim. Destino cruel. Mas ao mesmo tempo abençoado, pela possibilidade de afundar-me tão profundamente neste outro mundo, no qual poucos mortais - falando estatisticamente - têm o prazer e o privilégio de aventurar-se.

As palavras de Heidegger que escolhi para o começo fazem todo o sentido pra mim, e é exatamente o que disse: a arte dá sentido ao mundo, falando em termos bem simplórios. A arte não é um enfeite do mundo, ela é a chave para ele. Para o meu mundo, especialmente a música é a minha "poesia", e ela não paira fora, ela está dentro. É por isso que tantas vezes eu e muitos músicos tratamos música como religião, como aquilo que nos "religa", nos conecta com outras esferas, e com um Sagrado atemporal. Não falo que o artista vê o mundo de um jeito estranho? Pois é....

Basta de filosofia de "blogtequim", né? (risos)

Deixo o possível leitor com uma bela imagem de Erato, a Musa grega da Poesía Lírica, e está mais que bom. Acho que tudo que disse pode ser resumido no olhar que o pintor impingiu a ela. Pois não é exatamente o olhar de quem está mergulhado em outro mundo?



"Erato", por Sir Edward John Poynter

2 de janeiro de 2011

Maldição de Hoje: teledifusão

Hoje, sem saber do que falar, o Destino se encarregou de me dar uma motivação. E com ela, inauguro o label

MALDIÇÃO DE HOJE,

já que um blog deve servir também para exteriorizarmos nossos ódios, na tentativa de mantermos nossa compostura e não atacarmos o próximo com violência física, algo que quase todo dia tenho ímpeto de fazer.

A MALDIÇÃO DE HOJE vai para o infeliz que inventou a teledifusão. Pois é, tem gente que amaldiçoa quem inventou a bomba atômica. Eu amaldiçôo quem inventou esta maldição que é a possibilidade de enviar qualquer coisa pelos ares, ou por cabos, em sinais que são decodificados pelo aparelho de TV e convertidos em imagens e sons.

Eu não sei sobre quem minha maldição recairá. Foi um tal de Vladimir Zworykin o primeiro a patentear a tecnologia que viria a dar origem ao aparelho de TV. Mas meu problema não é exatamente com o aparelho, mas sim com o que ele recebe de graça por meio da teledifusão, então o já falecido russo está livre de minha praga. Seja lá quem for que inventou a teledifusão, provavelmente já morreu, e tomara que esteja queimando no inferno.

Ok, eu sei que tudo tem dois lados. Eu mesmo passei minha infância e adolescência vendo muita TV aberta, e vi muita coisa boa. E hoje existe coisa boa, claro. Só que aqui no Brasil (falo daqui porque é o que conheço), a quantidade de lixo televisivo é tão grande que as coisas boas se perdem e se tornam quase insignificantes.

Estou enfezado assim porque moro sobre uma gráfica, a qual - em pleno domingo - não deveria ver a presença de ninguém. Mas o fato é que todo domingo um cidadão vem pra gráfica fazer sei lá o quê, e todo domingo (e em outros dias também) ele liga sua televisão na infame Rede Globo, no último volume, e isso me incomoda de uma maneira traumática. Bem aqui de onde escrevo, ouço a programação infeliz desta emissora como se o aparelho estivesse atrás de mim. Isso é irônico, pois a TV aqui de casa não é ligada nem a antena nem a cabo, e só transmite o que o DVD ou o pen drive lhe transmitem. Ainda assim, sou obrigado a "ouvir" a Rede Globo o tempo todo, porque o infeliz da gráfica parece ter sérios problemas de audição. Aliás, é fato: quanto maior o lixo que alguém assiste, mais alto está o volume.

E aqui estou eu ouvindo "Neste domingo, depois do Fantástico...", como se o Fantástico fosse realmente fantástico, como se a Rede Globo não pudesse explodir nesse instante.

No fim das contas, institucionalizou-se que TV é sinônimo de coisa boa, e as pessoas tomam como sinal de boa educação, por exemplo, ligar o aparelho para "distrair" as visitas. Qual não é o tamanho do meu desgosto quando chego num ambiente silencioso, e a pessoa liga a TV, e às vezes até me dá o controle remoto na mão, sem saber que minha vontade era de lançar o mesmo contra a tela. Pode existir algo mais irritante que aquela barulheira de fundo quando estamos querendo conversar, por exemplo? Sim, quando era moleque eu assistia, mas daí cresci e percebi que detesto televisão assim.

Penso que o futuro dos programas será a transmissão pela internet, e que as pessoas acessarão seus programas pela rede, assistirão quando quiserem, como eu já faço hoje com minhas séries, que é a única coisa que assisto na TV. Enquanto o tempo não filtra e refina esse processo demoníaco chamado de "TV aberta", gastarei, infelizmente, muitos momentos da minha vida me incomodando com as TVs dos outros infernizando meus ouvidos.